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Blog do Amilcar

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Imagem fosca

Foi assim que me veio a imagem, fosca, quebradiça, irritante. Ela com a xícara de café na ponta dos dedos, segurando-se no salto alto agulha para não se desequilibrar. O café quente e a xícara trincada. Na boca um batom vermelho mal passado, agressivo, combinando com seu estado de humor do dia. Um sorriso desinteressado, esnobe, de alguém que não quer mais fazer parte daquilo ali, não mais em primeira pessoa. Os seus movimentos são desordenados e não combinam com técnica nenhuma, apenas com a energia com a qual ela acorda a cada dia. Lá fora da janela a poluição irrita seus olhos, muita gente passando, muito barulho se acumulando, muito terceiro mundismo que ela já não dá conta mais. Vomita! Seus ossos se quebram em um movimento staccato, sua voz quer dormir em um canto escuro sem ninguém para incomodar. Seus boletos estão pagos no prazo limite estabelecido. O café está esfriando, aos poucos, e a xícara vai se trincando, pedacinho por pedacinho. Ela sente o cheiro de um lugar muito distante de onde está, diz em grammelot pois as palavras existentes já não dão conta de seu caos interior, então, em grammelot, ela tem a ferramente que precisa para poder gritar. Ela lambe toda a sua boca e com alguns poucos movimentos seu batom desaparece. Ela está de salto, cabelos médios e castanhos, uma roupa elegante qualquer, maquiagem na face, perfume, de sobrancelhas feitas e depilada. Retira todos os vestígios de seu figurino anterior,e procura um novo layout. Ainda está a procura de sua casa pois ainda não possui uma, mas sabe que no momento ainda não a pode ter. A casa dos seus sonhos, o lugar dos seus sonhos.Quer percorrer o mundo. Ela começa a dançar um jazz, sente o gosto do petit gateau na boca, e fuma um black, claro, este não pode faltar. Dança devagarzinho, um som gostoso que se instala. Pede desculpas por não ser o que os outros esperam dela, ou não querer mais o que está vivendo no momento, mas está apenas mudando de ciclo, de rumo. Novo penteado, novos amigos, nova roupagem, novo país, nova casa, novo emprego, novas atividades... Ela quer mudança. Então deixa a xícara se despedaçar todo ao chão, o café espalhar e borrar o canto da sala,dá um leve sorriso como quem diz: completei este ciclo! Agora, me deixe viver o outro!varre a sujeira para fora dali. E sai!

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